Booking vs Airbnb: a batalha pelo turismo digital e por que a Booking está vencendo
- Gustavo Caetano
- há 5 dias
- 3 min de leitura

O pano de fundo da disputa
No imaginário popular, o Airbnb é a startup “cool” que revolucionou a hospitalidade. Sua proposta de viver como um local transformou o turismo urbano e inspirou toda uma geração de empreendedores digitais.
Já a Booking.com, fundada em 1996 na Holanda, parecia o player tradicional — quase “careta” — que simplesmente conectava viajantes a hotéis.
Mas o que parecia ser um duelo entre o novo e o velho virou uma lição estratégica: em 2024, quem domina o turismo digital global é a Booking Holdings, dona da Booking.com, Priceline, Kayak, Agoda e Rentalcars.
O que está em jogo não é apenas hospedagem, mas a disputa para ser o super app global de viagens.
Números que não mentem
Em 2024, os resultados financeiros escancaram o placar da disputa:
Booking Holdings faturou US$ 5,5 bilhões no Q2, com lucro líquido de US$ 1,3 bilhão.
Airbnb faturou US$ 2,7 bilhões, com lucro líquido de US$ 650 milhões.
Apesar de ser mais jovem e inovadora na percepção pública, o Airbnb fatura metade da Booking e enfrenta margens de crescimento menores.
As razões por trás da vitória da Booking
1. Escala e diversidade de inventário
O Airbnb apostou no “asset-light”, conectando anfitriões a hóspedes em lares privados. Funcionou bem — até enfrentar limites:
Regulação urbana (restrições em Nova York, Barcelona, Lisboa).
Saturação de oferta, com relatos de baixa qualidade.
Dependência de turismo de lazer, mais vulnerável a crises.
A Booking, ao contrário, opera com hotéis, resorts, pousadas, casas de temporada e até experiências. Resultado: ela captura tanto o turismo corporativo, que prefere hotéis padronizados, quanto o turismo familiar e de luxo, que demanda segurança e serviços.
2. O poder de ser ecossistema
Enquanto o Airbnb ainda é visto como “um lugar para ficar”, a Booking se posicionou como plataforma de viagem completa.
No mesmo app, o usuário pode:
Reservar hospedagem
Comprar passagens aéreas
Alugar carros
Adquirir ingressos e atrações
Esse efeito de rede aumenta o lifetime value do cliente. Quem viaja não precisa abrir cinco aplicativos — basta usar a Booking.
3. Performance vs branding
Aqui está uma diferença crucial:
Airbnb construiu uma marca amada, associada a experiências únicas.
Booking construiu uma máquina de aquisição, dominando Google Ads e SEO.
O resultado? No momento da decisão de compra (“hotel em Paris”, “resort no Nordeste”), a Booking aparece primeiro — e converte melhor.
Segundo dados do SimilarWeb, a Booking é um dos maiores compradores globais de tráfego pago, investindo bilhões em anúncios. Essa disciplina em performance marketing é invisível para o consumidor, mas letal para a concorrência.
4. Menos vulnerabilidade regulatória
Enquanto o Airbnb trava guerras com prefeitos e comunidades locais — acusado de inflar preços de aluguel e destruir a vida de bairros residenciais — a Booking não enfrenta a mesma hostilidade.
Seu modelo baseado em hotéis e parceiros comerciais se encaixa melhor em legislações existentes. Resultado: menos batalhas judiciais, menos incertezas.
5. Fidelização e previsibilidade
O Airbnb tem uma base de usuários apaixonados, mas pouco fidelizados. Muitos alternam entre Airbnb, Booking, Expedia e até sites diretos de hotéis.
A Booking apostou no programa Genius, que dá descontos progressivos para usuários recorrentes. O efeito é poderoso: aumenta a lealdade, reduz a dependência de Google Ads e cria previsibilidade de receita.
O Airbnb perdeu a guerra?
A resposta é não — mas está perdendo a batalha do mainstream.
O Airbnb ainda domina o nicho aspiracional, o turismo alternativo, os viajantes que buscam experiências autênticas. Sua marca é mais forte culturalmente. Mas em escala global, especialmente em viagens corporativas e turismo em massa, a Booking está cada vez mais consolidada como a escolha padrão.
As lições para empresas e startups
O duelo Booking vs Airbnb traz aprendizados valiosos para qualquer negócio:
Não basta ser inovador — é preciso ser resiliente.O Airbnb mudou o mercado, mas seu modelo expôs vulnerabilidades.
Ecossistemas vencem produtos isolados.A Booking entendeu que o futuro das viagens não é “onde dormir”, mas “como viajar do começo ao fim”.
Performance mata glamour.O Airbnb tem a narrativa; a Booking tem os números.
Fidelidade é arma competitiva.O programa Genius cria barreiras invisíveis que aumentam recorrência.
Regulação pode ser a maior ameaça à disrupção.O que parece “cool” nem sempre é sustentável em escala.
O futuro da disputa
Se olharmos para os próximos 5 anos, é provável que a Booking siga crescendo mais rápido em faturamento e lucro. Já o Airbnb terá que resolver seu dilema: expandir para ser mais ecossistema (com viagens completas) ou dobrar a aposta na autenticidade.
No placar de hoje, a Booking está vencendo a batalha porque combina escala, diversificação e eficiência financeira.Mas a guerra ainda não acabou — e o turismo é um setor em que mudanças de comportamento podem virar o jogo em poucos anos.
Mais em www.gustavocaetano.com/blog