A Computação Quântica Pode Acabar com o Bitcoin?
- Gustavo Caetano
- 1 de jul.
- 4 min de leitura

O Bitcoin nasceu em 2009 prometendo um sistema financeiro descentralizado, seguro e resistente à censura. Mas, ao mesmo tempo em que ele cresce como reserva de valor global, surge uma ameaça tecnológica que pode abalar suas fundações: a computação quântica.
Muito se fala sobre computadores quânticos capazes de quebrar a criptografia usada no blockchain. Mas será que isso significa o fim do Bitcoin? Ou há formas de proteger essa rede? Vamos explorar o tema em profundidade.
O que é computação quântica (e por que ela assusta)?
Computadores quânticos são máquinas que usam as leis da mecânica quântica para resolver problemas muito mais rápido do que os computadores clássicos. Enquanto um computador comum usa bits (0 ou 1), os quânticos usam qubits, que podem estar em múltiplos estados ao mesmo tempo.
Essa capacidade de superposição e emaranhamento permite resolver certos cálculos em frações de segundo — cálculos que levariam bilhões de anos em máquinas tradicionais.
Para a criptografia, isso é preocupante. Algoritmos como RSA ou ECDSA (usados no Bitcoin) dependem da dificuldade matemática de certos problemas, como fatoração ou logaritmos elípticos. Computadores quânticos suficientemente poderosos poderiam resolver esses problemas muito mais rápido, quebrando chaves privadas e permitindo fraudes.
Um artigo famoso sobre o tema é o de Peter Shor, que em 1994 descreveu um algoritmo quântico para fatoração que, teoricamente, tornaria obsoleta a criptografia tradicional (fonte).
Como o Bitcoin é protegido hoje
O Bitcoin usa a criptografia de curva elíptica (Elliptic Curve Digital Signature Algorithm – ECDSA) para gerar e validar assinaturas digitais. Para gastar bitcoins, você precisa provar que conhece a chave privada correspondente ao endereço público.
A segurança depende de ser praticamente impossível descobrir a chave privada apenas com o endereço público. Com computadores clássicos, isso é inviável. Mas com um computador quântico capaz de rodar o algoritmo de Shor, seria possível calcular a chave privada de qualquer transação revelada na blockchain.
Ou seja, endereços expostos (com transações passadas) seriam vulneráveis. Em teoria, um atacante poderia “roubar” esses fundos.
A computação quântica já é uma ameaça real?
Apesar do hype, a computação quântica prática ainda está em estágio inicial. Empresas como Google, IBM, IonQ e outras já têm protótipos com algumas dezenas ou centenas de qubits — mas para quebrar a criptografia de curva elíptica do Bitcoin, seriam necessários milhões de qubits estáveis e com correção de erros.
Estudos recentes sugerem que isso pode levar décadas. Por exemplo:
Um estudo de 2022 estimou que quebrar a ECDSA usada no Bitcoin exigiria cerca de 13 milhões de qubits lógicos (corrigidos) (fonte).
Mesmo os computadores quânticos mais avançados hoje têm qubits muito ruidosos e não conseguem manter coerência o suficiente.
Portanto, a ameaça não é imediata. Mas ela não é imaginária — se (ou quando) hardware quântico suficientemente poderoso surgir, ele poderá atacar blockchains que não tenham se adaptado.
Como o Bitcoin pode se proteger
O lado bom é que o Bitcoin não é imutável. Ele já passou por atualizações como o SegWit ou Taproot para melhorar privacidade e escalabilidade.
A comunidade discute soluções de criptografia pós-quântica, como:
✅ Mudança para algoritmos resistentes a ataques quânticos (Lattice-based, Hash-based, Multivariate).
✅ Políticas para gastar moedas que nunca expuseram suas chaves públicas.
✅ Soft forks ou hard forks para atualizar o protocolo.
Essas mudanças exigem coordenação, mas são viáveis. Em outras palavras: o Bitcoin tem tempo para se preparar.
Empresas como IBM, Google e NIST (National Institute of Standards and Technology dos EUA) já trabalham em padronizar criptografia pós-quântica, e há projetos de blockchain já experimentando essas tecnologias.
Storytelling: o Bitcoin já enfrentou ameaças antes
Em 2017, a rede quase se dividiu por disputas sobre o tamanho dos blocos. O resultado foi o surgimento do Bitcoin Cash. Mesmo assim, o Bitcoin original se manteve como o mais valioso.
Em 2021, países como a China baniram a mineração de Bitcoin. A rede se adaptou, redistribuiu hashrate globalmente e continuou funcionando.
Esses exemplos mostram que, embora vulnerabilidades existam, a comunidade Bitcoin tem histórico de resiliência e capacidade de atualização.
Impacto no mercado e na confiança
O maior risco no curto prazo não é técnico, mas psicológico. O medo de computadores quânticos já afeta discussões sobre investimento em Bitcoin.
Investidores institucionais querem segurança de longo prazo. Se o mercado perceber que a rede não se prepara para o mundo pós-quântico, pode haver fuga de valor para criptos concorrentes mais seguras.
Por outro lado, quem oferecer garantias de resistência quântica primeiro pode se beneficiar, atraindo usuários preocupados com o futuro da segurança digital.
E outras criptomoedas?
Vale lembrar que o Bitcoin não está sozinho. Ethereum e outras blockchains também usam ECDSA ou algoritmos semelhantes.
A transição para criptografia pós-quântica é um desafio para todo o setor. Existem projetos experimentais (como o Quantum Resistant Ledger) que já nascem com algoritmos quânticos-resistentes, mas têm pouco uso prático até hoje.
O futuro pode ser de blockchains híbridas ou atualizadas, capazes de suportar algoritmos pós-quânticos e tradicionais em paralelo.
A computação quântica vai acabar com o Bitcoin?
Em resumo: não hoje. A computação quântica ainda está distante de ameaçar a segurança do Bitcoin de forma prática. Mas ela é uma ameaça futura real, que exige planejamento.
A boa notícia é que a rede Bitcoin pode ser atualizada. Desde que haja vontade política e consenso na comunidade, algoritmos resistentes a ataques quânticos podem ser implementados antes que computadores quânticos suficientemente poderosos existam.
Assim como no passado, a maior força do Bitcoin não está apenas no código, mas na comunidade global disposta a defendê-lo e adaptá-lo.
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